O Percurso para a Resiliência Digital
Desde o início da crise pandémica global da COVID-19 no começo de 2020 verificámos, juntamente com os nossos colegas por todo o mundo, que as abordagens clássicas da forma como as empresas abordam as disrupções e a crise económica, acabaram por falhar e não ter um impacto significativo. Por exemplo:
- Planos de continuidade de negócios baseados no confinamento de trabalhadores essenciais ou a utilização de sites secundários (dark) provaram rapidamente ser insustentáveis à medida que a crise evoluía.
- Ao invés, as empresas procuraram habilitar virtualmente todos os trabalhadores de back-office, bem como os trabalhadores da linha de frente, de vendas e apoio às vendas, de forma a trabalharem a partir de casa.
- A gestão das cadeias de abastecimento, os processos de fidelização de cliente e os sistemas de apoio à decisão provaram ser incapazes de responder de forma rápida às mudanças radicais na procura.
- As empresas substituíram estes métodos com soluções que permitem uma colaboração em tempo real e uma rápida aplicação de desenvolvimento/ implementação.
- Planos tecnológicos de resiliência baseados em backups clássicos de dados/replicação e falha de centros de dados secundários em áreas não afetadas provaram ser impraticáveis, à medida que as equipas de TI tentavam ter acesso físico a localizações primárias ou secundárias, enfrentando grandes estrangulamentos de performance das redes.
- Esta dificuldade despoletou um aumento significativo na utilização de instalações baseadas na partilha, com opções robustas de interconexão de rede.
- Ainda que tenham sido empregues estratégias clássicas de “controle de capital” e “ciclo de vida do ativo” para os sistemas e softwares de TI, estas não foram suficientes para a adaptabilidade necessária no apoio à nova força de trabalho remota.
- Ao invés, as organizações expandiram a sua utilização on-demand / uso de opções baseadas em IaaS e SaaS, bem como o consumo flexível de TI/hardware de rede para apoiar os trabalhadores remotos.
Todas estas “novas” abordagens no planeamento/conduta com negócios e disrupções de TI durante a pandemia da COVID-19, tornaram claro que uma organização tem que ser capaz de se adaptar e responder a esta disrupção empresarial radical, de forma a sobreviver. Simultaneamente revela que, mesmo após o abrandamento da crise atual, a capacidade de responder de forma rápida e de adaptação a mudanças pequenas ou extremas, é fundamental para o sucesso futuro no próximo normal.
A Economia Digital Representa uma Aceleração Fundamental no Ritmo da Mudança
A IDC acredita que as organizações bem-sucedidas na economia digital têm que sobressair de forma rápida à medida que a disrupção acontece. Trata-se de alterar o foco da atenção das empresas e líderes de tecnologia para o tema da resiliência. Estamos comprometidos em ajudar organizações a alterar eficazmente os seus investimentos em tecnologia, permitindo a construção de resiliência de forma a sobreviverem a um ambiente volátil, incerto, complexo e ambíguo (VICA).
No entanto, historicamente, existiram duas perspetivas distintas de resiliência no contexto de qualquer organização:
- Linha de líderes empresariais mais focada na resiliência empresarial, ou a ‘capacidade de uma organização responder às disrupções empresariais, restabelecer operações de negócio em tempo útil e manter a sua missão.’
- Para os líderes de tecnologia, o foco era a resiliência nas TI, que era sobre a capacidade de uma organização manter níveis de serviço aceitáveis, e futuramente, disrupções severas nos seus sistemas de TI.
Vamos chamar-lhe a resiliência pré-pandémica…No início da pandemia, tornou-se claro que estas duas definições tinham que ser aproximadas, de forma a refletir o facto de que qualquer processo empresarial ou cadeia de valor, está sustentado na tecnologia de um modo fortemente integrado. Construir qualquer tipo de resiliência empresarial é um grande desafio (onde estamos agora: resiliência pós-pandemia).
Contudo, a evolução da resiliência anterior ao pós-COVID é apenas o primeiro passo. Todas as organizações necessitam de se preparar para múltiplos acontecimentos VICA no futuro. As organizações têm que fazer a transição para a resiliência digital, tal como descrito na figura em baixo:
O primeiro passo neste processo de transição consiste na adoção de uma nova definição de resiliência, por parte da organização em geral e por parte da organização de TI que a apoia. Uma definição em que os universos da empresa e das TI se fundem num só – sob a forma de resiliência digital. A IDC define a organização digital resiliente como uma organização que se adapta rapidamente a disrupções empresariais e alavanca capacidades digitais, de forma a manter de forma contínua as suas operações, e que rapidamente se ajusta, tirando partido das condições de mudança e agarrando novas oportunidades.
A IDC está também a lançar o Índice de Investimento de Resiliência Digital que possibilita às empresas rastrear de forma extensiva os seus investimentos em tecnologia, e percecionar como os seus clientes, concorrência e parceiros se estão a transformar nesta construção de resiliência digital.
O objetivo do índice é proporcionar uma visão composta da resiliência digital entre as organizações a nível mundial e monitorizar as mudanças de investimento como uma previsão das taxas de investimento e prioridades tecnológicas. Inclui dois fatores – investimentos digitais core e investimentos digitais de inovação. Em conjunto, for
mam o Índice de Investimento de Resiliência Digital.
O índice também procura rastrear como os investimentos podem variar no tempo, baseados em condições de mudança. Estes investimentos dividem-se em três categorias distintas:
- Investimentos principais: foco na manutenção das operações tendo em conta o mercado VIC.
- Investimentos de adaptação: agir rapidamente de forma a tirar partido das condições de mudança.
- Investimentos de aceleração: investimento na construção de novas capacidades para obter novas oportunidades de mercado e aumentar o crescimento.
Os investimentos nestas áreas não são apenas “boas ideias” para planos futuros. A maioria das empresas já está a investir em todas estas categorias:
- Investimentos CORE – A Siemens implementou recentemente uma solução experimental de posto de trabalho interligado em 600 sites, de Julho a Outubro de 2020, para criar um regresso seguro ao trabalho para os postos de trabalho digitais do futuro. A solução combina dados de localização, utilização e construção com um vasto leque de necessidades, ligando os trabalhadores aos seus postos de trabalho em linha com as regras e orientações locais.
- Adaptação – A L’Oreal capitalizou investimentos em e-commerce nos últimos anos, que se traduziram em 3,3 mil milhões de receita e 65% de crescimento na primeira metade de 2020, em plena pandemia. No entanto, encaram este fator apenas como ponto de partida para uma expansão em escala. Na realidade, acreditam que o pico do e-commerce não é uma bolha, mas sim uma nova base de referência. O que tem sido interessante é verificar como a L’Oreal alavancou esta presença digital alargada para criar mais ligações digitais, melhorar o seu portfolio e alcançar novos níveis de relevância juntos dos seus clientes. Lançou vídeos em live streaming com coaching de beleza e ‘beauty-as-a-service’ como um modelo novo de subscrição, ao mesmo tempo que reduziram para metade o seu investimento em ModiFace – um fornecedor de tecnologia de realidade ampliada que adquiriram em 2018. A empresa tem integrado estas capacidades tecnológicas, substituindo os testers físicos com equivalentes virtuais, enquanto parte da sua expansão digital mais vasta.
- Aceleração – A BMW lançou uma iniciativa arrojada para redefinir as suas operações, tendo a sustentabilidade como ponto central. Esta iniciativa atravessa a cadeia de abastecimento, a produção e o produto em si mesmo (o carro), com objetivos específicos de redução de emissão de carbono, mas também ganhos operacionais de eficiência. Envolveu, não apenas uma adaptação das suas operações principais para a redução de custos, mas também o investimento significativo em novas tecnologias, de forma a responder às expectativas do cliente em torno de operações e produtos sustentáveis. Oliver Zipse (CEO da BMW) deixou claro que não se trata de uma iniciativa ad-hoc, mas faz parte da ambição da BMW em liderar a indústria em termos de sustentabilidade.
Enquanto diversas partes da economia global se preparam para outra vaga de confinamentos, a necessidade de resiliência ao nível individual, empresarial e social torna-se bastante clara. As tecnologias digitais fazem, em grande medida, parte da solução.
A nível pessoal os nossos smartphones permitiram-nos continuar ligados à nossa família e amigos, os canais digitais deram-nos acesso a produtos e serviços fundamentais e, as nossas subscrições de streaming, mantiveram-nos entretidos durante a maior parte de 2020.
Para as empresas, os investimentos que as organizações fizeram em tecnologia e, especificamente, em tecnologias de transformação digital, tornaram possível que muitas empresas mantivessem um nível operacional que nunca antes foi possível e, simultaneamente, adaptarem-se e acelerarem na captação de novas oportunidades na economia digital. Esta é a definição de resiliência digital – um elemento fundamental na versão redefinida da IDC de Empresa do Futuro.
Inicie o seu percurso na resiliência digital: consulte agora o Índice de Investimento de Resiliência Digital IDC 2020
Philip Carter
Group Vice President,European Chief Analyst and WWC-Suite Tech Research Lead na IDC