Todos já ouvimos crianças a proferir a frase “quando for grande quero ser...”, e onde antes aparecia Astronauta ou Bombeiro, começou também a aparecer Instagrammer, Blogger, YouTuber e afins. Estejam agora preparados para quando o vosso filho vos disser que quer ser Vírus, lhe explicar que enquanto os primeiros são “influenciadores digitais” e potenciais profissões, o último, mesmo sendo um dos maiores “influenciadores do digital”, não será uma profissão aceitável.
Nos últimos meses, sofremos inúmeros impactos derivados da pandemia. Uns na vertente logística/organizacional, como limitações de mobilidade, necessidade de distanciamento social, imposição de trabalho remoto, redução de atendimento presencial ou dificuldade de acesso a bens e serviços. Outros, não menos importantes, no plano social, como receio da doença, insegurança relativa ao futuro, perda de rendimento e necessidade de isolamento devido à Covid.
Estes impactos contribuíram para um acelerar da digitalização da sociedade e do sector financeiro. Seria, porém, injusto dizer que a Covid impôs a criação de um programa de digitalização às instituições financeiras angolanas, pois a maioria já tinha um programa a decorrer. O que observámos foi um aumento da prioridade atribuída a esses programas, bem como da sua relevância estratégica, materializada numa reflexão mais profunda do que devem ser.
Olhando o lado do cliente/consumidor (empresa ou particular), aí sim, por necessidade, a pandemia “impôs” a adopção do digital. O online banking (e os restantes canais não presenciais) tornou-se o meio possível para lidar com os impactos descritos, tendo revelado nesta adopção forçada algumas lacunas de base difíceis de ultrapassar num curto prazo, mas que são agora olhadas como temas urgentes.
Numa perspectiva de país, é prioritário reforçar o investimento em redes de comunicação, enquadramento legal de processos digitais, educação na vertente de inclusão digital, bancarização e fomento da literacia financeira.
Na vertente das instituições financeiras, importa reavaliar os seus programas de transformação digital, não contemplando apenas a vertente eficiência dos actuais processos de negócio, mas introduzir também a disrupção digital com novos processos de negócio e avaliar a cobertura digital dos processos críticos de negócio (ex. criação de novo cliente, adesão a canais, subscrição de empréstimo, etc.).
Existem inúmeras razões para África, e Angola em particular, levarem a sério o tema da digitalização da sociedade e do sector financeiro: vastidão do território, potencial de bancarização, necessidade de custos baixos face ao rendimento médio por habitante, densidade populacional baixa inviabilizando estratégias presenciais (balcões), e uma percentagem bastante relevante (+ 45%) de clientes bancários angolanos preferirem usar meios digitais.
A Covid sendo o grande influenciador da adopção do digital no momento, tem de ser considerada um acidente de percurso. Acelerou algo que aconteceria inevitavelmente, não voltaremos a ter o mundo como estava no início de 2020. O ideal será usar esta “desculpa” (a Covid) para recolocar o “barco” no rumo certo, contemplando as especificidades de cada país e instituição.
José Nunes, 50 anos, é membro executivo do conselho de administração da Asseco PST, empresa de Tecnologias de Informação especializada no desenvolvimento de software bancário, desde Novembro de 2011. É licenciado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC), tendo concluído o curso em 1991, e pós-graduado no Programa Avançado em Gestão para Executivos do Sector Financeiro, pela Universidade Católica Portuguesa, em 2000.
Adicionalmente, fez formação em Negociação e Compras pelo Instituto Norte-Americano e formação em Negociação pela Universidade LaSalle. Realizou igualmente vários cursos nos centros de formação profissional da Accenture, em Chicago (EUA) e Veldhoven (Holanda), e no Instituto de Formação Bancária.
Começou a sua carreira profissional como consultor, em 1992, na Accenture, onde permaneceu até 2007, sendo na altura Senior Executive. Durante os 15 anos que esteve na companhia teve oportunidade de dirigir vários projectos de planificação de negócio, desenho e implementação de sistemas de informação em entidades financeiras. De 2008 a 2009 foi membro do conselho de administração da Audaxys, com responsabilidade directa sobre toda a vertente operacional e estratégica. Daqui transitou para a Capgemini, onde exerceu o cargo de vice-presidente entre Fevereiro de 2009 e Julho de 2011.
Na Asseco PST, acompanhou por dentro a integração plena da empresa no Grupo Asseco, um dos maiores especialistas europeus no desenvolvimento de software, e a mudança de identidade corporativa, concretizada em setembro de 2018, com a assunção da nova marca. Na empresa, alia a sua formação técnica à experiência em coordenação de equipas e coordenação das áreas de desenvolvimento de produtos próprios, suporte a clientes, certificação de qualidade, entrega de soluções customizadas na banca e soluções de informação de gestão, entre outras.