Desde a fundação da ACEPI há 19 anos, muito se alterou no panorama tecnológico e na economia digital. Num país em que muitos agentes económicos se confrontam com problemas de escala, a digitalização e o comércio eletrónico afiguram-se importantes fatores de penetração em outros mercados. Se os benefícios são claros para o setor empresarial e para a riqueza gerada no país, também o serão, por acréscimo, para a sociedade globalmente considerada.
Nos últimos 10 anos, a percentagem de utilizadores da Internet a nível mundial passou de ¼ da população para mais de 50% em 2018. Em Portugal em 2008 a percentagem de utilizadores estava abaixo dos 50%, sendo que em 2018 este valor subiu para cerca de 80%. As previsões apontam para que nos próximos 10 anos a utilização da Internet a nível mundial venha a ultrapassar os 2/3 da população, sendo que em Portugal deverá atingir quase os 100%! Uma evolução notável que, de algum modo tem também reflexo no facto de ser cada vez maior o número de compradores online em Portugal – em 2018 foram quase 50% dos utilizadores de internet os que fizeram compras online, tendo gasto perto de 5 mil milhões de euros, estimando-se que até 2025 esse valor possa atingir os 9 mil milhões de euros e que mais de 7 milhões de portugueses venham a fazer compras online. Outro dado curioso, é o de a maioria dos portugueses utilizar já a Internet para consultar produtos, serviços e preços. É ainda de salientar a crescente utilização dos ser – viços públicos digitais, e o valor exponencial das compras online efetuadas pelo Estado português (que desde 2009 têm de ser obrigatoriamente realizadas em plataformas electrónicas) e pelas empresas que em 2018 foram superiores a 70 mil milhões de euros.
Para as empresas, qualquer que seja a sua dimensão, a atual realidade obriga não só a uma presença online visível e dinâmica, que permita estabelecer e manter relacionamen – tos efetivos com o mercado, mas sobretudo adaptar os processos e as equipas para a revolução digital. Neste contexto, nos últimos dois anos as preocupações com a transfor – mação digital têm vindo a crescer no universo empresarial português, de forma transver – sal a todas as indústrias. Mas apesar de muitas organizações a nível nacional, já estarem a levar a cabo projetos de transformação digital, estes são tendencialmente isolados e não estão, como seria desejável, alinhados com a estratégia de negócio e integrados num modelo que abranja toda a organização. O estudo anual de benchmak, elaborado pela IDC com a ACEPI sobre o tema da transformação digital, ilustra isto mesmo e comprova que, menos de 50% das empresas nacionais têm uma estratégia de transformação digital alinhada com a estratégia de negócio, sendo que as tecnologias prioritárias de investi – mento estão centradas na mobilidade, na cibersegurança e nos serviços de cloud compu – ting. Esta tendência é imparável e é uma aposta que as empresas têm que fazer para se manterem competitivas e explorarem as oportunidades de um mercado cada vez mais globalizado. O Digital deixou de ser um tema da tecnologia, para passar a ser um tema dos negócios e escalou para as agendas dos conselhos de administração e dos CEOs. Os benefícios mais referenciados pelas empresas na transformação digital focam-se na inovação em produtos e serviços, bem como na fidelização dos clientes.
Por outro lado, são ainda poucas as empresas portuguesas que estão a fazer vendas pela internet, levando os portugueses a realizarem o grosso das suas compras online em lojas estrangeiras. Concomitantemente, o número de portugueses que faz compras online, apesar de já ser bastante elevado está ainda distante da média europeia (70%). Em ambos os casos o principal problema é a falta de competências digitais dos portugueses. No caso da sua população, Portugal tem hoje cerca de 2 milhões de portugueses que nunca usaram a internet e cerca de 4 milhões que fazem uma utilização muito básica (i.e. apenas para ver o email, fazer pesquisas e usar as redes sociais). Acresce que 95% do tecido empresarial português é constituído por microempresas (menos de 10 colaboradores), sendo que grande parte dos seus donos são pessoas com muito baixas ou nenhumas competências digitais. Em Portugal, 60% dos negócios ainda não têm sequer presença online. É nesta área que a ACEPI está a colocar uma parte significativa dos seus esforços, com várias iniciativas em curso para ajudar as empresas a digitalizarem-se e a utilizarem as ferramentas digitais para modernizarem os seus negócios e aumentarem as suas oportunidades de crescimento. Atenta a este cenário, a ACEPI tem vindo a desenvolver inúmeras iniciativas com o intuito de ajudar as PME a fazer a transformação digital e a internacionalizar os seus negócios.
Entre estas iniciativas, destacam-se o Programa “Comércio Digital”- Qualificar o Comércio e os Serviços para a Economia Digital, um dos mais emblemáticos projetos nacionais criado até à data na área da transformação digital e da modernização das empresas portuguesas. O ComércioDigital.pt, uma iniciativa conjunta da ACEPI – Associação da Economia Digital e da CCP – Confederação do Comércio e Serviços de Portugal que conta com o apoio do Ministério da Economia e que é cofinanciada pelo COMPETE 2020, e que visa promover a primeira presença online de 50 mil microempresas portuguesas do setor do comércio e dos serviços em dois anos, dando-lhes a conhecer através de um roadshow nacional que inclui 150 sessões de esclarecimento, as ferramentas essenciais do marketing digital e que lhes permitirão modernizar e internacionalizar os seus negócios, aproveitando novas oportunidades no contexto do comércio online e da economia digital a nível mundial. Destacaria ainda a iniciativa “Norte Digital”, um projeto piloto com 50 PME’s produtivas do Norte de Portugal que visa identificar e desenvolver as competências necessárias à internacionalização e aumento das exportações através do digital e que incluiu o desenvolvimento de 3 estudos internacionais (i.e. estudo detalhado do TOP20 das economias digitais mundiais; estudo do perfil de consumo digital na Europa e ainda um estudo dos principais marketplaces globais); de uma ferramenta de autodiagnostico da maturidade digital para PME’s e ainda a consultoria de desenvolvimento do negócio digital às empresas integradas no piloto.
O momento é de mudança no sector do e-commerce a nível global. Existem hoje duas grandes plataformas globais onde os consumidores – nomeadamente os portugueses – fazem compras online: a ALIBABA e a AMAZON. Estas plataformas operam globalmente – e nomeadamente na Europa – onde os mais importantes desafios são por um lado, a construção do “Mercado Único Digital” e, por outro, garantir que existe um “Level-Playing Field” global nomeadamente em relação às plataformas sediadas fora da União Europeia. Neste contexto, o principal desafio para os retalhistas online dos vários países europeus – nomeadamente para os portugueses, é terem que operar num ambiente de negócios globalizado onde a vantagem competitiva das empresas depende do acesso que estas tenham a novas tecnologias, a dados, à capacidade de operar eficientemente além-fronteiras e de se adaptarem rapidamente à evolução do comportamento dos consumidores. Os decisores políticos da UE devem aproveitar a oportunidade do novo mandato das instituições europeias para construir uma forte visão política para o e-commerce. Até porque, muito em breve, deixaremos de falar em “comprar online” e “comprar offline”, para falarmos simplesmente em “comprar”!