#30 Future Enterprise Show com José Nogueira
Nova edição do Future Enterprise Show (FES), mais uma oportunidade para discutir o futuro das organizações numa economia cada vez mais digital. Desta feita, o convidado foi José Nogueira, chief operating officer na Tranquilidade e Generali.
O FES é a visão da IDC para o futuro das organizações que se querem resilientes, ágeis e capazes de inovar de forma contínua numa economia cada vez mais digital. Numa conversa moderada por Fernando Bação e Gabriel Coimbra, José Nogueira começou por partilhar as suas características pessoais que, de alguma forma, mais marcaram a carreira: “Todos nós somos uma mistura de diferentes ingredientes e, no meio de tudo isto, a sorte tem um papel muito importante nas nossas carreiras e eu devo muito à sorte. Mas a sorte dá trabalho.”
José Nogueira fala assim num cocktail de características das quais destaca três. Desde logo “uma paixão obstinada pelo sucesso das empresas nas quais estou e dos projetos que tenho” a que se junta o facto de “ser uma pessoa muito positiva e com a certeza de que é fantástico estarmos cá”. Finalmente, a terceira característica, e talvez a mais impactante, acredita o responsável da Tranquilidade e Generali, “é deixar de olhar para os problemas e replicar apenas aquilo que se faz bem, conforme sublinha Meg Whitman, co-CEO da HP”.
Considerações à parte, José Nogueira considera que este “é um momento fantástico para estar no setor dos seguros”. A verdade é que falamos “de um setor muito complexo, mas também com grandes desafios que urge ultrapassar”. A aceleração que o mundo teve nos últimos dois anos, fruto da pandemia, permitiu ao setor dos seguros “acelerar também de forma brutal tudo o que eram as suas novas áreas e novos temas de transformação tecnológica” o que implica “investimentos massivos em tecnologias, rede de parcerias, ecossistemas e know-how”.
Os desafios são, por isso, “enormes” já que o setor tem de se “consolidar à velocidade da luz e o mercado vai ser reflexo desta realidade”. De resto, a Tranquilidade é já um sinal disso mesmo: “Em 2016 fundiu-se com a Açoreana, depois fundiu-se com a Generali e agora faz parte do Grupo Generali.” E, a verdade, é que este movimento de consolidação no setor “é uma tendência que vai acelerar ainda mais nos próximos anos”, acredita.
Ainda assim, José Nogueira considera que não será fácil prever os próximos tempos e, um sinal disso mesmo, foi o que aconteceu na pandemia em fevereiro /março de 2020. “Os planos de continuidade de negócio das empresas falharam” já que “previam tudo, desde guerras, terramotos, quebras de energia., etc, mas esqueceram-se de prever pandemias com confinamento” e isso diz muito do que pode ser o futuro, “uma incógnita”.
De qualquer forma, este responsável considera-se “um otimista quanto ao ramo segurador” até porque “a Tranquilidade tem 150 anos e a Generali 190 anos e neste período assistimos a mudanças de regime, guerras, desastres e, mesmo assim, estamos cá”. Com isto, pretende-se dizer que “as seguradoras foram capazes de se transformar e sobreviver”.
Questionado sobre se as tecnológicas podem ser uma dura concorrência, José Nogueira diz que não: “Eu não vejo que as tecnológicas sejam competidoras; acredito muito em ecossistemas e parcerias e não temos de olhar as tecnológicas como ameaças, mas antes como aliadas.”
Não obstante, fica claro que “as empresas precisam de se transformar internamente, com maior digitalização dos seus processos, para oferecer melhores propostas de valor aos seus clientes, mas também para atrair melhor as pessoas do novo mundo para os seus quadros”, disse.
E, já que se fala em atrair talento, qual será, afinal de contas, a fórmula de sucesso para fazer frente à escassez do mesmo? José Nogueira considera que Portugal tem um défice de capital financeiro e humano “e o talento que temos deve ser visto como a nossa capacidade para transformar a economia nos próximos anos”.
Antes de terminar a conversa, o responsável da Tranquilidade e Generali deixa um conselho a quem está a iniciar ou a escolher o seu percurso profissional: “Escolham alguma coisa que gostam e façam bem e a partir daí gozem os privilégios de viver num país livre e democrático como aquele em que vivemos”.
Na verdade, “quando escolhemos alguém para a Tranquilidade, buscamos pessoas apaixonadas e ambiciosas, que queiram fazer melhor e diferente. Podem ter uma formação superior ou não, mas o que procuramos de forma consistente é esta parte muito interpessoal… serem apaixonados e quererem fazer mais e melhor”.
No final, ficam três ideias de livros para outras tantas leituras diferentes: “O Primeiro Homem de Roma”, um romance histórico que conta o percurso de uma geração de líderes romanos, políticos brilhantes e oradores extraordinários, filósofos, juristas, etc, “que moldaram a sociedade tal como ela existe hoje; é um livro inspirador”; o segundo chama-se “From third World to First”, escrito pelo líder histórico de Singapura, explica de que forma este conseguiu trazer Singapura de ser um dos países mais pobres do mundo para se tornar um dos mais ricos do mundo”; finalmente, o livro “Imunidade à Mudança”, de dois professores universitários, e que parte de uma experiência com uma série de pacientes com problemas graves aos quais foi dito “ou mudam de estilo de vida ou morrem”. Contas feitas, apenas um em sete conseguiu mudar! E o que se percebe aqui é que “não chega a vontade de mudar, há outras barreiras à nossa mudança, muito difíceis de ultrapassar”.
Pode também assistir ao episódio completo aqui : Spotify , Google Podcasts ou outras plataformas.
Fernando Bação
Professor Catedrático na Nova Information Management School
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