Gastos com Tecnologia de Consumo Sobem Face ao Ano Passado, Fruto de uma Tentativa de Voltar ao “Normal”

Esse crescimento pode ser um sinal precoce de que os gastos do consumidor com tecnologia se estabilizarão em um novo “nível d’água” mais alto com David Myhrer da IDC.

Gastos com Tecnologia de Consumo Sobem Face ao Ano Passado, Fruto de uma Tentativa de Voltar ao "Normal" 

Os gastos globais na área de tecnologias para consumo aumentaram 10% em julho deste ano face ao mês anterior, mas o aumento foi ainda maior quando comparado com julho de 2020 – de acordo com a pesquisa Consumer Tech Purchase Index da IDC. O crescimento foi impulsionado por um aumento de 17% na compra de dispositivos. Descubra a seguir outras dados importantes desta realidade.  

Drivers do Crescimento de Julho

Embora o crescimento nos gastos com dispositivos tenha impulsionado o resultado de julho, os serviços suportados em tecnologia asseguraram também um forte desempenho após um primeiro semestre muito forte de 2021. Embora os gastos na tecnologia de consumo tenham crescido apenas 1% em relação a junho, o aumento face ao ano anterior é já de 5%. 

É importante ressalvar que os resultados não são uniformes para todas as categorias de dispositivos e serviços. Por exemplo, no lado dos dispositivos da casa, os gastos com tablets e smartphones aumentaram acentuadamente numa comparação ano a ano, no mesmo mês (julho). Já os gastos com computadores pessoais, por outro lado, caíram nessa mesma comparação. Ao nível dos serviços para a casa, os serviços agrupados diminuíram em relação ao ano passado, enquanto os serviços independentes aumentaram.

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Esta verdadeira resiliência nos gastos do consumidor com tecnologia, face à retomada dos gastos em outras categorias é uma notícia bem-vinda para as empresas de tecnologia que se iam perguntando o que poderia acontecer à medida que os consumidores procuram um regresso à normalidade.  

Muitos ainda se questionam, em voz alta, "O que irá afinal acontecer?" Depois de registar lucros recordes no segundo trimestre, uma série de empresas de tecnologia optaram por rever em baixa as expectativas de receitas futuras, temendo a queda numa espécie de precipício. 

Os gastos básicos do consumidor com tecnologia mudaram? 

Os gastos globais do consumidor com tecnologia atingiram um índice de 117, ou seja, 17% acima do benchmark de abril de 2020, e 14% acima de julho do ano passado. 

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Talvez o mais importante de tudo seja perceber que julho foi o quarto mês consecutivo em que os gastos globais superaram o mês correspondente de 2020, impulsionados pela pandemia. Dada a consistência deste padrão, isso poderia de fato indicar que o maior nível de envolvimento com a categoria de tecnologia conduziu os gastos a um novo patamar. 

No entanto, é muito cedo para fazer esse tipo de afirmações; são necessários mais dados e por um período mais longo. Mas essa possibilidade é reforçada pelo fato de o aumento dos gastos ser bastante abrangente, englobando todas as classes sociais. A única exceção verificou-se entre as famílias que ganham $150.000 ou mais, mas são uma pequena parte dos consumidores. 

A retoma das despesas ao nível não tecnológico não ameaçou a tecnologia - pelo menos por enquanto 

Uma queda abrupta nos gastos do consumidor final com tecnologia não parece iminente, embora estes continuem a reforçar os gastos em outras categorias não tecnológicas, particularmente nos serviços. Até ao momento, esse aumento tem-se mostrado gradual, com poucos indícios de que está a ter impacto direto nos gastos do consumidor com tecnologia. 

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De sublinhar que, para cada categoria, apenas 45% a 65% das pessoas relatam ter retomado o nível de despesas pré-COVID. Isso significa que mais gastos ainda deverão surgir. 

Mas também sugere que alguns consumidores podem não voltar ao mesmo nível de gastos - ou podem levar algum tempo a fazê-lo. Como exemplo, considere os gastos com gasolina / transporte. Na medida em que as empresas adotam políticas de trabalho híbridas, ou continuam a permitir que os seus funcionários trabalhem a partir de casa, é provável que esses gastos não voltem totalmente ao nível anterior. Para uma parcela da população, muito preocupada com a saúde, a redução da frequência de saídas para comer ou ir a locais de entretenimento, em relação ao período pré-COVID, também é uma possibilidade real. 

No sentido em que os consumidores não vão retornar aos níveis anteriores em matéria de gastos não tecnológicos de um momento para o outro, isso mantém em aberto a possibilidade de os gastos se direcionarem à tecnologia, fortalecendo os hábitos dos consumidores e o envolvimento com a categoria. Será importante continuar a monitorizar o ritmo dos gastos não tecnológicos e a mudança no nível de rendimento disponível. 

As Poupanças Estão a Cair, Atingindo Níveis Anteriores ao COVID 

A poupança é o rendimento disponível não gasto. Em junho, o Bureau of Economic Analysis (BEA) dos EUA informou que a taxa de poupança pessoal continuou a cair, desde o seu pico mais recente (em março de 2021), quando se conheceram as últimas medidas de estímulo económico. Não será de todo absurdo esperar que esta estabilize em níveis comparáveis ​​aos pré-COVID (cerca de 8%). 

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Isto é bastante notório já que representa uma mudança importante em relação ao período pandêmico em que os consumidores (como um todo) tinham mais dinheiro em mãos. Os consumidores podem sentir uma pressão crescente para escolher entre tecnologia e outras coisas, reforçando a importância de se monitorizar o reforço de gastos em outras categorias. O facto de que os gastos do consumidor com tecnologia terem permanecido fortes até ao momento - enquanto a taxa de poupança continuou a seguir o caminho da normalização – é um bom indicador. Os próximos meses serão reveladores. 

E Quanto à Variante Delta? 

As notícias sobre a variante Delta já estão no mercado há algum tempo, com relatos de um número crescente de casos e hospitalizações. Apesar disso, a preocupação do consumidor com a COVID-19 caiu entre janeiro e o final de maio e depois manteve-se estável ao longo de junho e julho, mesmo se analisarmos detalhadamente a segunda quinzena de julho. Vamos ficar atentos ao gráfico de agosto. 

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Até que Ponto a Vida Voltou ao Normal? 

Questionados diretamente, em média, os consumidores afirmam que a “normalidade” na sua vida atinge cerca de 70%. O sentimento do consumidor manteve-se neste nível ao longo da segunda quinzena de junho e também todo o mês de julho, mesmo com o ciclo crescente de notícias em torno da variante Delta. 

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Relutância em Tomar a Vacina Significa que a COVID-19 Passará a Fazer Parte do "Novo Normal" 

Dados bastante credíveis da Mayo Clinic mostram que 60,4% da população dos EUA recebeu, pelo menos, uma dose de uma vacina COVID-19 até 19 de agosto. É um avanço face a 21 de junho, quando essa percentagem era de 53,6%. 

No entanto, os nossos dados mostram que o grupo de consumidores ainda não vacinados é cada vez mais composto por aqueles que se opõem à vacina. Ora esta questão impede a chegada da imunidade coletiva e garante que a COVID-19 e as suas variantes vão continuar a fazer parte de nossas vidas, reforçando ainda mais a necessidade de tecnologia por parte dos consumidores. 

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Principais Conclusões e Ações a Desenvolver:

  • Os gastos do consumidor com tecnologia têm-se mostrado muito resistentes e é pouco provável que caiam abruptamente nos próximos meses. 
  • É muito cedo para dizer se este será um "novo nível de estabilização", mas os sinais até agora são promissores. 
  • Estaremos atentos ao ritmo e à percentagem de gastos do consumidor em categorias não tecnológicas e tentaremos perceber de que forma isso começa a impactar os gastos do consumidor em tecnologia. 
  • Dado o cenário atual, provavelmente vamos ter gastos com tecnologia muito acentuados na época do regresso às aulas (agosto / setembro). 
  • Com a chegada das férias de fim de ano, é importante estar preparado para gastos acentuados e contínuos (embora uma possível retração em outubro se encaixe no padrão do ano passado). 
  • Dada a resistência à vacina e a presença ainda forte da COVID-19 como parte do “novo normal”, as marcas devem continuar a assegurar as estratégias que promoveram durante o auge da pandemia (por exemplo, pagamento contacteless, etc.). 
  • Perceba que diferentes consumidores têm expectativas diferentes de acordo com a sua opinião sobre o COVID-19 e os riscos associados. 
  • É importante uma abordagem omnicanal que dá aos consumidores a possibilidade de escolha sobre a forma como eles compram. 

O Consumer Technology Strategy Service (CTSS) da IDC utiliza um sistema de pesquisas frequentes junto do consumidor para fornecer aos profissionais de marketing B2C uma visão abrangente sobre o que precisam fazer para antecipar e corresponder às mudanças nas necessidades do consumidor, superando sempre a sua concorrência. Isso inclui avaliar a confiança da marca e ajudar as empresas a entender como cultivá-la. 

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