O Dilema de Confiança nas Redes Sociais
É um utilizador habitual das redes sociais?
Se sim, já foi enganado nas redes sociais?
Se sim, já leu notícias falsas nas redes sociais?
Se sim, acredita que os seus dados pessoais podem ter sido mal utilizados nas redes sociais?
Se sim, então continue a ler...
Com o advento da internet, ninguém imaginou as consequências que as plataformas de média social teriam sobre os seres humanos. Não concorda que elas podem ser vistas como uma espécie de máquinas inteligentes semelhantes às retratadas na trilogia dos filmes Matrix? Os filmes projetam um futuro distópico em que a humanidade está presa numa espécie de realidade virtual muito parecida com a de hoje, onde as plataformas ligadas às redes sociais, como o Facebook, prendem os utilizadores numa realidade digital sem possibilidade de fuga. Se concordarem, então continuem a ler…
Deixe-me fazer-lhe mais algumas perguntas.
As redes sociais são uma das suas principais fontes de informação (incluindo eventos atuais)?
Se sim, você acredita que as informações disponíveis nas redes sociais são confiáveis?
Se não, você gostaria de receber informações mais precisas de fontes respeitadas?
Se sim, você pagaria por um serviço que fornece informações precisas de fontes respeitadas?
Se não, você estaria disposto a usar uma rede social que exige que você se identifique com um ID emitido pelo governo para usar a plataforma de graça?
Se não, temos um problema.
O enorme abismo da ganância pelo livre acesso aos serviços digitais tem um custo elevado para os cidadãos e também para a sociedade.
O verdadeiro impacto da dispersão de (des)informações nas redes sociais não regulamentadas tem causado níveis incompreensíveis de polarização, segregação, isolamento, cyberbullying, depressão, violência, bem como invasão de privacidade.
Na sociedade atual plena de um amontoado de (des)informações, as plataformas sociais estão sob forte escrutínio e grande pressão para assumirem a responsabilidade por resultados positivos e negativos. Na verdade, essas plataformas, como o Facebook, podem ajudar a lançar ou a desacreditar totalmente um pequeno grupo de indivíduos ou, até mesmo, a sociedade em geral.
O Facebook está a ligar indivíduos um pouco por todo o mundo, mas os seus problemas chegam de várias fontes. A empresa tem sido marcada por várias controvérsias, mas, ainda assim, continua a ser a plataforma social mais poderosa em todo o mundo.
Um problema, um erro, uma quebra de confiança
Em 2016, foi revelado que, através de um processo de consentimento informado, o Facebook permitiu que uma terceira entidade, a Cambridge Analytica, reunisse informações relativas a quase 87 milhões de utilizadores, dos quais quase 71 milhões estavam nos Estados Unidos. Essa informação ajudou a criar perfis psicográficos para veicular anúncios e, eventualmente, influenciar as eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos.
Como se isto não fosse suficiente, um conjunto de documentos vieram a público indicando que o Facebook aproveitou dados de utilizadores para combater rivais e controlar a concorrência e foi subsequentemente investigado pelas autoridades estaduais e federais. Em 2019, o Facebook foi multado em 5 biliões de dólares – um valor quase 20 vezes maior do que a maior multa de privacidade ou segurança de dados já imposta em todo o mundo - por violar a privacidade dos consumidores. Na verdade, é uma das maiores penalizações já instauradas pelo governo dos E.U.A. para qualquer violação.
Conecte o Não Conectado num Mundo pouco confiável
A criatividade engenhosa do Facebook para dominar o mundo digital está bem ativa até aos dias de hoje. Em 2013, a empresa fundou o Free Basics (anteriormente conhecido como Internet.org), um serviço que tentou "conectar os não conectados" com acesso à internet acessível para países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Este serviço fornece acesso gratuito a uma variedade de serviços básicos, como notícias, informações meteorológicas e de saúde, anúncios de emprego e, claro, ao Facebook. Como alguns críticos diriam, esta espécie de jardim rodeado de muros é uma reminiscência de um portal web da década de 1990 da AOL.
E, mesmo que a empresa tenha feito lobby e, eventualmente, não tenha sido capaz de convencer a Índia a concordar com este programa, em 2019, o Free Basics estava ativo ainda em 28 países africanos, inativo em três outros e tinha sido proibido apenas no Egito.
Ups! Voltei a fazer o mesmo outra vez…e outra…
Em 2014, a empresa introduziu um serviço opcional para dispositivos móveis que poderia identificar qualquer música ou programa de televisão que estivesse a ser reproduzido na altura, permitindo assim a partilha dessas informações entre utilizadores. Mas parece que depois disso a empresa começou a levar a privacidade um pouco mais a sério…, mas apenas por algum (pouco) tempo. Em 2019, foi revelado que o Facebook estava a transcrever mensagens áudio dos seus utilizadores.
Podíamos continuar, mas acho que já percebeu a ideia.
Será que mais legislação e regulamentação poderiam ajudar?
Embora se tenha pedido a intervenção do governo no âmbito desta temática das redes sociais, os vários Estados-nação ainda não se uniram sob um mesmo desígnio comum, como as Nações Unidas, para enfrentar esse caos. Nesse sentido, o contrato social entre os cidadãos e o governo é mais prejudicado do que melhorado.
Empresas de tecnologia, especialmente plataformas sociais, são como organismos vivos. Elas adaptam-se ao cenário em que atuam e aos governos locais. Em muitos casos, essas plataformas sociais são mais poderosas do que o governo local, por causa de sua capacidade de vender comportamentos preditivos (alavancando o perfil psicográfico), criando assim uma espécie de submercado do capitalismo de vigilância. Essas plataformas provavelmente dispõem de insights mais precisos do que o governo local relativamente ao número de residentes em cada país onde operam.
E, neste caso, o governo dá bom uso à informação que essas redes sociais reúnem. Aos olhos do público, o governo e as plataformas sociais podem ser vistos como adversários – com o primeiro a tentar regular o outro - mas na vida real, há muito mais trabalho em parceria do que aquele que imaginamos.
E então, qual é a solução?
A identificação digital é a questão da nossa vida.
A única solução promissora é a regulamentação mundial que exige que as plataformas sociais permitam o acesso apenas aos utilizadores que se identificam com credenciais emitidas pelo governo. Além disso, a legislação que exige que as plataformas sociais compensem adequadamente os utilizadores por partilhar os seus dados com consentimento simplificarão a recolha de dados e seguirão as políticas de governança.
A desvantagem é o potencial em matéria de fraude de identidades. As plataformas sociais devem repensar a sua visão ao nível da identidade digital. Usar detalhes estáticos, como nomes de utilizador e password, ou questões de segurança, deixaram de ser suficientes para garantir que o acesso do utilizador é, efetivamente, legítimo. É imperativo implementar soluções resistentes a fraudes - como biometria - que dependem de identificadores únicos para minimizar as preocupações dos clientes, consumidores, empresas, governos e criadores de conteúdo.
A confiança conquista-se ao fazer o prometido
Uma pesquisa recente da IDC indica que aproximadamente um terço dos 791 entrevistados globais não preveem nenhuma mudança nos gastos em governança de identidade para 2021. A IDC acredita que a maioria desses entrevistados está a gastar pouco ou nenhum dinheiro em matéria de tecnologia de governança.
Para aqueles que projetam um aumento, a Ásia/Pacífico é significativamente maior do que outras regiões. A IDC especula que isso possa ser uma indicação da capacidade de amadurecimento dos programas de segurança e da adoção de novas tecnologias, já que a Ásia/Pacífico não tem sido um grande mercado para líderes de tecnologia em matéria de governança. Já as organizações nos EUA estão a projetar elevados gastos com governança, sendo que 13% indicou um aumento de 20% ou mais do orçamento (correspondendo às expectativas para totais avançados de autenticação).
Serão necessárias aspirações públicas e vontade política para que a identidade digital se torne dominante.