O Futuro das Operações e a Gestão Intermédia
Porque Existe Gestão Intermédia nas Operações
Irei abordar algo que está tão enraizado na forma como trabalhamos, que poucas pessoas consideram ou a colocam em causa. Todos a conhecemos e muitos de nós fazem parte desta classe conhecida como gestão intermédia. Durante séculos nenhuma organização, independentemente da sua dimensão, funcionava com o patronato ou alguém de nível executivo a supervisionar os seus trabalhadores na sua atividade. Desde gestores a supervisores, a capatazes, alguém tem de levar as decisões executivas de gestão sénior e adaptá-las a tarefas realistas para cada trabalhador. O mesmo fluxo acontece de forma inversa. A informação sobre o progresso operacional tem de subir pela hierarquia como informação percetível para os gestores sénior.
Um indivíduo consegue apenas lidar com uma determinada quantidade de dados e informação durante um curto período de tempo e, em simultâneo, só consegue tomar um número limitado de decisões eficazes. Porém observemos o custo da informação que flui pela hierarquia baseada na gestão intermédia:
- Fluxo lento e incompleto da informação para os decision-makers – pode demorar dias, semanas ou até mesmo meses até que a informação devidamente agrupada, analisada e interpretada chegue aos decision-makers séniores.
- Resposta lenta assim que as decisões são tomadas – Assim que os dados são agrupados em ações, ordens ou tarefas, têm que fazer o seu percurso em sentido inverso, através da mesma cadeia de gestão intermédia.
- Informação tendenciosa e mal interpretada – A informação até chegar ao topo tem que passar por diferentes camadas organizacionais com influências moldadas por objetivos pessoais, KPIs e incentivos.
- Oportunidade de decisões – todo o fluxo de informação, do topo para baixo e vice-versa, faz com que quando a decisão chega ao seu destino, haja uma boa hipótese de estar obsoleta.
- Criação de silos de informação: a gestão intermédia tem tendência para criar ou reforçar silos na organização e, de forma não intencional, limitar a colaboração livre.
Utilizemos a indústria transformadora como exemplo. Como demonstrado na imagem 1, uma das maiores preocupações atualmente neste setor, do ponto de vista dos recursos humanos, são os gestores intermédios e não os engenheiros e técnicos que conduzem a inovação.
A necessidade crescente de gestores intermédios é diretamente atribuída ao aumento de informação e exigências crescentes na gestão sénior, para uma maior rapidez na tomada de decisão. Contudo, os gestores intermédios eficientes devem possuir uma combinação única de conhecimento detalhado, criatividade, carisma e ambição. Estes atributos são extremamente difíceis de encontrar no seu conjunto, ainda mais em empresas da indústria transformadora, onde se verifica uma ausência de habilitações e que são encaradas, de modo geral, pela força de trabalho mais jovem, como menos apelativas comparativamente a outros setores.
Da gestão intermédia à Engenharia Digital
Estes novos sistemas centrados em informação não são a parte fundamental da mudança e da transformação: é a própria organização que a IDC considera como a Organização de Engenharia Digital. A visão da IDC do Futuro das Operações (IDC Perspective: Digital Engineering and the Future of Operations, April 2020) é baseada na tomada de decisão resiliente, conduzida pela atividade do cliente e do mercado. O core desta nova organização envolve os decision-makers a lidar diretamente com uma estrutura de tomada de decisão conduzida pela IA, alimentada pela informação empresarial e de mercado das TI e informação operacional da Engenharia Digital.
A Organização de Engenharia Digital (ED) é a nova gestão intermédia nas operações. Esta equipa reúne um conjunto de conhecimentos especializados, habilitações de TI e capacidades digitais. Os gestores intermédios bem-sucedidos não possuem apenas um conhecimento especializado, mas aprendem através da experiência em como trabalhar com as TI, e tendem a liderar nos projetos digitais. O que a organização de engenharia digital faz é reconhecer a mudança de responsabilidade das necessidades de informação para o grupo ED dos diferentes departamentos dentro da organização.
No entanto, é importante ser realista – neste momento, não acredito que qualquer pessoa possa ter acesso a informação e estruturas de decisão de forma automatizada, ao ponto de as gestões intermédias deixarem de fazer parte da força de trabalho. A transformação consiste em gestores intermédios tornarem-se na equipa de engenharia digital. Nesse papel passam a ser menos transmissores de informação e mais possuidores de uma estrutura rápida de tomada de decisão.
Kevin Prouty
Group Vice President, Energy and Manufacturing Insights